Black is Beautiful - Pró-Equidade de Gênero, Raça e Diversidade
De acordo com dados de maio de 2020, compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020), 9,4% da população se autodeclara preta no país e 46,8% se diz parda, portanto 56,2% da população brasileira é negra, frente a 42,7% que se declara branca.
Ainda de acordo com o IBGE (2019), apesar da população negra e parda representar cerca de 54,9% da força de trabalho, ela ocupa apenas 29,9% dos cargos de gestão. Dados apresentados pelo Instituto Ethos (2010) detalham essa distribuição, mostrando que dentro do quadro funcional 25,5% dos cargos de supervisão são ocupados por pessoas negras; 13,2% dos postos de gerência; e somente 5,3% do quadro executivo. Nesse cenário, a situação da mulher negra é ainda pior, pois ela representa apenas 9,3% dos postos da base do quadro funcional e 0,5% do topo.
Esses dados são complementados pelo relatório “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça” do IPEA, que mostra que no ano de 2011 as mulheres negras tinham comparativamente o maior índice de desemprego no Brasil, de 12,5%, comparado a 9,2% das mulheres brancas, 6,6% dos homens negros e 5,3% dos homens brancos e, também, a menor renda média, de R$ 544,40, equiparando a R$ 833,50 do homem negro, R$ 957,00 da mulher branca e R$ 1.491,00 do homem branco (IPEA, 2011).
Esses dados por si só justificam políticas para corrigir as distorções. O Instituto Ethos, fórum permanente de discussão sobre a responsabilidade social no país, publicou regularmente (anos de 2001, 2003, 2005, 2007 e 2010) relatórios apresentando os perfis social, racial e de gênero das 500 maiores empresas brasileiras e suas ações afirmativas, em que se observa um progresso, ainda que em passos lentos, na diversidade dos quadros funcionais. Na pesquisa de 2010, ficou evidente que a escolha das 500 maiores empresas como alvo da pesquisa se deu pois "os padrões adotados por elas têm força de indução e certamente servirão como referência para todo o meio empresarial brasileiro" (ETHOS, 2010, p. 4).
Essas distorções são reflexo do racismo estrutural que é muito forte no Brasil.
O conceito da diversidade vem sendo estudado pelas ciências administrativas desde a última década no século passado (1990), onde as organizações que a promovem em seus ambientes organizacionais, também viabilizam e incentivam o respeito recíproco, aceitando e compreendendo as diferenças. No mundo contemporâneo, a diversidade nas organizações é muito mais ampla do que nos séculos passados, pois o número de funcionários de uma mesma empresa com diferentes origens e valores é cada vez maior. As organizações que obtêm e que motivam uma força de trabalho diversificada são capazes de aumentar a criatividade e inovação organizacional, alcançando um maior número de clientes. (MERIC; ER; GORUN, 2015).
Um estudo realizado pela McKinsey & Company, chamado “Why diversity matters,” mostrou que as empresas com maior diversidade étnica e racial têm 35% mais chances de ter retornos financeiros acima da média. De acordo com a Catho, o aumento do desempenho das empresas com maior diversidade na gestão e em cargos de liderança deve-se a fatores como: atenção e retenção de talentos, redução de conflitos na equipe, clima organizacional mais favorável, aumento da criatividade organizacional, alcance de melhores resultados.
A palavra "raça" vem do italiano razza e designava pessoas de mesma ascendência. Porém, o conceito de raça como classificação humana, do modo que é entendido atualmente, surgiu no final do século XVIII e início do século XIX, e sempre defendeu a superioridade da raça branca. Essas teorias buscavam justificar a ordem social que surgia na medida que os países europeus invadiam novos territórios e subjugavam suas populações.
A divisão da espécie humana em raças foi uma prática amplamente adotada e buscou justificar diversos crimes associados ao preconceito e ao ódio contra grupos específicos, como a escravidão e o holocausto.
Entretanto, a ciência abandonou essa classificação, pois as pesquisas indicam que as diferenças físicas, como cor dos olhos, da pele e dos cabelos, chamadas diferenças de fenótipo, não correspondem às diferenças genéticas entre esses grupos. Assim, em termos biológicos, toda a humanidade pertence a apenas uma raça, somos todos Homo sapiens, cujo significado é “homem que sabe”. A ciência já determinou que as diferenças entre os humanos são culturais, e que as raças humanas não existem do ponto de vista biológico. A origem da humanidade também é uma só: a África é o berço do ser humano mais antigo já encontrado, com 315.000 AA (antes da atualidade), em Djebel Irthoud, no Marrocos. Os humanos começaram a migrar da África por volta de 215.000 AA, povoando todos os continentes ao longo do tempo.
Hoje, o termo raça é utilizado para designar os problemas sociológicos ligados à diferença e ao valor social atribuídos a certas características físicas e étnicas, como casos de discriminação ou segregação racial que ainda persistem na sociedade (racismo).
Hoje, o termo raça é utilizado para designar os problemas sociológicos ligados à diferença e ao valor social atribuídos a certas características físicas, como casos de discriminação ou segregação racial que ainda persistem na sociedade.
A frase black is beautiful tornou-se parte da cultura na década de 1960, mas foram as imagens do fotógrafo Brathwaite que popularizaram esse slogan, que significa literalmente “negro é lindo”. O artista, frustrado com os ideais de beleza para os afro-americanos - com cabelos alisados que ilustram a assimilação cultural e a representação exagerada de negros de pele clara em revistas negras - fotografou seus modelos ao natural, cabelos crespos, pele escura e genuinamente negros.
Em janeiro de 1962, Brathwaite realizou seu primeiro concurso de beleza, chamado “Naturally '62: The Original African Coiffure and Fashion Extravaganza Designed to Restore Our Racial Pride and Standards”. Os participantes, que ficaram conhecidos como modelos Grandassa, não eram profissionais do mundo da moda, o que reforçou a visão política e artística de Brathwaite. Eles tinham a pele escura e seus cabelos não eram alisados, usavam roupas de inspiração africana, cheias de cores exuberantes, estampas coloridas e com padrões elaborados.
Através do olhar delicado e sensível de Brathwaite, a forma feminina negra, sem adulteração na aparência, deu origem a uma nova linguagem visual que ajudou a curar feridas seculares da supremacia branca. Os modelos Grandassa eram uma idealização de uma utopia feminina negra, que revigorava uma África sem limites, carregando todos os dialetos, línguas, sotaques e subculturas africanas. O artista não retratou a mulher negra como o que ela poderia ser, mas como sempre foi, sua beleza uma constante e uma realidade, e não como algo a ser consertado.
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É importante entender o termo branquitude, pois ser branco em um mundo racista é um lugar de conforto, não importa a classe social. Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2021) e o Atlas da Violência (2021) mostram que os negros têm 2,6 mais chances de serem vítimas de homicídio que um branco; que entre as crianças vítimas de violência não letal entre 0 e 9 anos, 63% são negras; e na faixa etária entre 15 e 19 anos esse número sobe para 81%. Assim, o termo branquitude diz respeito a um lugar de privilégios simbólicos, subjetivos e materiais disponíveis para as pessoas que são identificadas como brancas em uma sociedade em que o racismo é estrutural.
Entretanto, é importante destacar que a branquitude é diferente do racismo. Ela permeia a vida ddos brancos, colocados pela sociedade em um papel de superioridade e é difícil perceberem que ocupam um lugar de privilégios na sociedade apenas por serem brancas.
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Quer entender um pouco o recorte de raça? Sugerimos alguns filmes bacanas para ver e se inspirar: